Enfermeira da Vigilância Epidemiológica do hospital, Jéssica Ribeiro
A sífilis congênita é uma doença silenciosa e devastadora que afeta bebês, sendo transmitida da mãe para o filho durante a gestação. Por esse motivo, todas as mulheres em trabalho de parto que dão entrada pela Emergência Obstétrica do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, unidade do Governo da Bahia administrada pela Fundação Estatal Saúde da Família (FESF-SUS), em Ilhéus, passam por testes que identificam Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), dentre elas, a sífilis. Neste mês, o movimento denominado “Outubro Verde” chama a atenção para as formas de prevenção, diagnóstico e tratamento da doença.
Entre julho e setembro deste ano, os casos notificados pelo Materno-Infantil de sífilis gestacional e congênita apontam para uma realidade preocupante. Durante o trimestre analisado, foram notificadas 39 gestantes com diagnóstico de sífilis gestacional e 20 recém-nascidos expostos à sífilis congênita. A distribuição apresentou variação mensal, com pico de casos em agosto, seguido de queda em setembro.
Mais jovens
Em setembro, foi observada uma predominância de mulheres na faixa de 25 a 40 anos, representando 75% dos casos registrados. Em julho, 63,6% das gestantes estavam entre 15 e 24 anos de idade. Ilhéus, entre os 20 municípios atendidos na macrorregião, foi o que apresentou o maior número de notificações em todos os meses, totalizando 29 casos (74%) no período.
A enfermeira da Vigilância Epidemiológica do hospital, Jéssica Ribeiro, afirma que muitas mulheres só ficam cientes da infecção no momento dos exames exigidos pelo hospital no pré-parto. “As mulheres deveriam ter esse diagnóstico ainda no posto municipal de saúde, durante o pré-natal”, explica Jéssica.
É protocolar que o tratamento da gestante seja finalizado em até 30 dias antes do parto. “Quando já na maternidade fazemos essa titulação, como é chamada a identificação dessa IST, ocorre a notificação: vamos à beira-leito, entrevistamos a paciente, fazemos uma leitura detalhada do Cartão da Gestante para verificar se há inconformidades nos dados. Algumas dessas mulheres não realizam o pré-natal de forma correta, e isso nos leva a fazer uma anamnese mais detalhada sobre seu histórico”, explica a enfermeira.
As mulheres com gestação de alto risco, já acolhidas e assistidas no Ambulatório do HMIJS, fazem o teste em um período planejado, dentro do calendário gestacional, caso necessitem de tratamento. De acordo com a enfermeira, se a gestante não realizou o tratamento adequado na rede de atenção primária, a criança, ao nascer, será tratada na unidade por 10 dias. A mãe iniciará imediatamente o tratamento ainda durante a permanência hospitalar. Os casos são encaminhados ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) do município, que passa a acompanhar o bebê. Após 45 dias, um novo teste é realizado no próprio CTA.
Proteção ao recém-nascido
No Hospital Materno-Infantil, além do tratamento do bebê e da aplicação da primeira dose de medicamentos na puérpera, é feita a coleta do líquor na região lombar e o raio X dos ossos longos do recém-nascido, para verificar se houve alguma alteração neurológica. O líquor é um exame crucial no diagnóstico da neurossífilis, enquanto a radiografia é complementar, especialmente nos casos de sífilis congênita, para avaliar o acometimento ósseo.
Jéssica Ribeiro destaca que a prevenção é a chave para evitar essa condição e que o “Outubro Verde” surge como um movimento essencial para conscientizar e mobilizar a sociedade na luta contra essa e outras infecções sexualmente transmissíveis. Ela reforça que um pré-natal bem feito, com acompanhamento criterioso na rede de atenção primária, é o primeiro grande passo para uma gestação bem-sucedida.
Durante toda a próxima semana, ações de combate, detecção e divulgação de informações sobre a sífilis serão desenvolvidas nas recepções do Ambulatório e da Emergência Obstétrica do HMIJS. Técnicos da unidade e estudantes de Medicina e Enfermagem falarão sobre o tema.
Referência
O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio conta com 105 leitos de internação, incluindo 10 de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo) e 25 de cuidados semi-intensivos, além de cinco leitos no Centro de Parto Normal Intra-Hospitalar. A unidade é referência regional em atendimento a partos de risco, gestação de alto risco, cuidados intensivos e intermediários neonatais, além de cuidados intensivos e clínicos infantis. É também o único hospital da Bahia habilitado pelo Ministério da Saúde para atendimento aos Povos Originários. Funciona 24 horas por dia e atende tanto demandas espontâneas quanto referenciadas pela rede primária de saúde. É a única maternidade 100% SUS do sul da Bahia.